Na primeira parte desse post falamos sobre a consciência e a possibilidade da criação desta por meios artificiais, por mãos humanas. Embora com outra roupagem, há inúmeras criações artísticas que surgiram deste questionamento. Desde a mitologia grega, com a história de Galatéia, construída no mármore por Pigmaleão, que terminou por receber de Afrodite o toque da vida, até o golem Frankenstein da escritora Mary Shelley, cujo nome se tornou referência do receio que algumas pessoas têm de que toda criação de vida, inteligência e consciência artificial possa se voltar contra o seu criador em um afã violento pela liberdade cerceada.
No clássico Eu, Robô, Isaac Asimov tentou desmitificar a visão temerosa acerca da existência de robôs artificialmente inteligentes, tratando os robôs como seres que se dedicariam aos homens de forma inapelável, colocando acima de sua própria existência a vida humana. Nos livros de Asimov foram então criadas as três leis da robótica – que iam de encontro à ideia de que a criação de inteligência artificial seria um risco para a humanidade – mas também criando a profissão de psicólogos de robôs, profissionais que trabalhariam constantemente com a saúde mental artificial. Propondo não o medo, mas sim o cuidado com essa nova esfera mental que poderia vir a existir. Seguindo pela mesma direção, Douglas Adams – com sua veia satírica e crítica – criou robôs que se emocionam, se alegram e até o Marvin, um particular robô que sofre por ser inteligente demais, sendo acometido por uma depressão imensurável, na sua série de livros O Guia do Mochileiro das Galáxias.
O filósofo John Searle argumentou que não haveria como existir um sistema artificial capaz de organizar pensamentos genuinamente conscientes. Para exemplificar, Searle utilizou o conhecido “argumento do quarto chinês”, onde assemelha uma máquina que dá respostas de aparente consciência a um homem em um quarto fechado que recebe e repassa informações aprendidas em um manual previamente escrito, sem realmente entendê-las. Para Searle, por mais avançada que seja a tecnologia, nada poderá replicar a capacidade humana da compreensão e inserção no mundo e na sociedade.
Todavia, tal debate ainda está em sua forma primária e mesmo uma série de posts maior não seria suficiente para exaurir os milhares de tópicos concernentes a essa discussão. Muito há o que se perguntar, não só em seus aspectos filosóficos, que tangem mesmo a possibilidade de tal existência, mas também relacionada aos aspectos éticos e tecnológicos deste avanço. Mesmo que as possibilidades da tecnologia atual ainda não se encontrem em plena capacidade de permitir tal reprodução, pensar no impacto que essa criação teria na sociedade é extremamente interessante.
Reproduzir um cérebro artificialmente se mostra com o passar do tempo uma tarefa difícil, mas valiosa para a tecnologia e a ciência, e um empreendimento sedutor para a imaginação daqueles que se encantam com o potencial da nossa consciência.
Searle, J. R. (1980). Mind, Brains and Programs Behavioral and Brain Sciences, 3 (3), 417-457
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