O avanço tecnológico já se mostrou útil em diversas áreas das ciências, com os aparelhos cada vez mais delicados e potentes é possível ver o detalhe de estrelas, sejam elas as gigantes de gás incandescente no espaço ou as pequenas partículas que dançam a todo o momento no universo do nosso corpo. Assim como as outras ciências, a Psicologia tem aproveitado desse avanço tecnológico para aperfeiçoar suas técnicas de investigação e com isso as práticas que guiam seus profissionais.
O lado experimental de uma disciplina costuma aproveitar mais das possibilidades de novas tecnologias do que o lado aplicado e com a psicologia não foi diferente, como exemplo é possível lembrar que foi só a partir do advento das técnicas de imagem que se tornou possível observar o cérebro em ação, e assim, chamar os anos 90 de “Década do Cérebro”, com as pesquisas em neurociências tendo um caráter de vanguarda na revolução científica (sendo muito influentes até hoje). As pesquisas sobre cognição e comportamento terminaram por se tornar ainda mais elegantes e explicativas e trouxeram evidências difíceis de refutar. Mas a prática psicológica nesses anos todos de avanço tecnológico aparentemente não havia sentido tanta mudança, nas clínicas, organizações e escolas, o psicólogo não costumava utilizar muitos instrumentos ou aparelhos avançados para a sua intervenção, no máximo alguns testes psicológicos e neuropsicológicos. A tendência, entretanto, é que esse quadro mude.
Tecnologia para psicólogos
Psicólogos têm buscado diferentes formas de interagir com seus clientes, seja pelo twitter e blogs de divulgação ou de opinião, ou buscando validar atendimentos por softwares de bate-papo como o MSN, a tecnologia vem ganhando espaço nas discussões das práticas psicológicas. Indo além, uma tecnologia já conhecida por muitos, vista em muitos filmes e videogames, a Realidade Virtual, está sendo utilizada para auxiliar terapeutas em diversos casos, como treinamento, reabilitação cognitiva e motivação para crianças que estão passando por fisioterapia (a fisioterapia se transforma em um jogo de corrida ou futebol, muito mais divertido que a esteira comum). Isso faz com que, aparentemente, seja da Realidade Virtual que se espere as maiores transformações para a prática psicológica.
Em um estudo realizado na Universidade de Pádua, na Itália, uma técnica de reabilitação para o déficit de memória em idosos com Alzheimer utilizando a realidade virtual foi testada, os resultados apresentados revelaram que, apesar do declínio cognitivo ainda existir nestes idosos, a atenção deles melhorou consideravelmente, permitindo também uma melhora na recordação de informações a longo prazo. Com esses resultados, outras investigações começam a ser feitas, inclusive tentando adaptar testes neuropsicológicos para uma plataforma comum, o Nintendo Wii, tornando-os mais ecológicos e – vamos admitir – divertidos.
Na Alemanha um grupo de pesquisadores avaliou outro uso para a Realidade Virtual – e este aparentemente se tornará ainda mais útil com o tempo – a terapia para fobias. O uso de programas de Realidade Virtual para trabalhar fobias de avião, altura e aranhas já tem se mostrado eficaz em alguns estudos, mas no caso específico da investigação realizada pelos pesquisadores alemães, questionava-se até que ponto uma aranha virtualmente desenhada obteria o mesmo efeito aversivo que uma aranha real para os indivíduos com fobia. Após uma seleção onde os participantes “provavam” o seu medo de aranhas a partir de questionários e alguns testes, reduzindo a amostra apenas para participantes diagnosticados com a fobia, os testes começaram a ser feitos. Em um quarto fechado, o participante se deparava com uma aranha na parede oposta a que estava e era indicado a se aproximar dela apertando um botão, enquanto isso, suas respostas verbais e fisiológicas eram mensuradas para observar nos participantes os efeitos que as aranhas virtuais causavam.
O resultado foi que os indivíduos acabavam por generalizar o seu medo de aranhas reais de forma intensa, fazendo que as aranhas virtuais fossem extremamente temidas. A partir destes resultados, é possível inferir que técnicas apropriadas para o tratamento também poderiam ser generalizadas, sendo assim, o estudo concluiu que o cenário virtual ao causar as mesmas respostas que os estímulos reais, com a vantagem de ser em um ambiente controlado pelos profissionais, será extremamente útil não só para realizar terapias para indivíduos com fobias, como também para pesquisas futuras sobre aspectos do medo e o desenvolvimento de novas técnicas a partir de um controle muito maior, resultando em práticas mais eficazes.
Mühlberger, A., Sperber, M., Wieser, M. J., & Pauli, P. (2008). A VIRTUAL REALITY BEHAVIOR AVOIDANCE TEST (VR-BAT) FOR THE ASSESSMENT OF SPIDER PHOBIA. Journal of CyberTherapy and Rehabilitation., 1 (2), 147-158
Optale, G., Urgesi, C., Busato, V., Marin, S., Piron, L., Priftis, K., Gamberini, L., Capodieci, S., & Bordin, A. (2009). Controlling Memory Impairment in Elderly Adults Using Virtual Reality Memory Training: A Randomized Controlled Pilot Study Neurorehabilitation and Neural Repair, 24 (4), 348-357 DOI: 10.1177/1545968309353328
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6 comentários:
Opa, que interessante esse método pra tratar fobias :), não conhecia.
Lembro que ouvi no Canadá que eles estavam usando muito Wii em hospitais como técnica fisioterápica - acho que pode ser uma boa mesmo - além de divertido - o uso da plataforma na reabilitação cognitiva e Cia.
adoraria pesquisar esses mecanismos do biofeedback. Mas aqui no Brasil é osso...
pois é, Aline, será que tem alguém fazendo algo parecido no Brasil?
Ouvi falar, muito vagamente, que na federal do Pará eles têm os equipamentos, mas não sei se é verdade.
Oi gente!
Tem um grupo aqui no Brasil voltado para Biofeedback.
Eles têm grupo de discussão por email sobre o tema, aulas online, etc. Não sei se chegaram a concretizar, mas lembro que, até a época que eu estava acompanhando, eles estavam se organizando para formar a Sociedade de Biofeedback aqui no Brasil.
O site de um dos administradores do grupo é o http://itallis.com/.
O nome dele é Adrian C. M. Van Deusen. Ele é americano e mora em SSA.
O grupo de email é o brasbrain@googlegroups.com (não sei, mas imagino que talvez dê para solicitar participação). Ou vocês também podem entrar em contato pelo email dele:
adriancmvd@gmail.com
adrian@itallis.com
Boa sorte!
Opa, Adriana, valeu pela dica!
E o cara está em Salvador, olhe só :).
Onda há vida há esperança =D
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