Pelo direito de ser diferente (também)
Sobre consciência e inteligência artificial. (parte I)

Update: Sobre consciência e inteligência artificial (parte II).
Você sabe o que significa dignidade? E direitos?
O tálamo, esse desconhecido.
Um aspecto de fundamental importância no estudo psicológico é a relação do indivíduo com o ambiente, e tal relação depende intensamente de como sentimos e percebemos o meio em que vivemos. Enquanto a sensação pode ser compreendida como a codificação de estímulos externos por meio de receptores sensoriais, a percepção é a capacidade de organizar uma representação interna compreensível do mundo externo a partir destes estímulos codificados. Poucos se oporiam ao argumento de que, entre o estímulo físico externo ao corpo e a final compreensão deste estariam envolvidos órgãos que em sua estrutura possuem receptores que possibilitam a sensação do estímulo (i.e., papilas gustativas da língua, cones e bastonetes dos olhos etc.) e o córtex cerebral, interpretando os dados anteriormente codificados e enviados, fazendo-os alcançar à consciência. O que talvez ainda não faça parte do conhecimento geral é que, posicionado no encéfalo, está um componente muito importante para que todo o funcionamento desse processo se dê da forma mais assertiva possível, o tálamo.
O tálamo é constituído de duas massas de substância cinzenta, dispostas de cada lado, na porção látero-dorsal do diencéfalo, acima do sulco hipotalâmico. Suas duas grandes massas de tecido nervoso possuem um formato ovoide e são unidos pela aderência intertalâmica. A informação recebida a partir da excitação por estímulos do meio externo dos receptores sensoriais – células adaptadas para captar a energia física do meio ambiente e transformá-la em energia neural, um processo chamado transdução – segue para essa estrutura que serve de relé para os estímulos sensoriais.
Comumente chamado de “secretária do cérebro”, o tálamo reorganiza todos os estímulos sensoriais (com exceção dos olfatórios) e os traduz, os enviando para as suas devidas áreas corticais a fim de serem interpretados. Sendo assim, entende-se que sem ele, mesmo interpretar tais sentidos seria um empreendimento de grande dificuldade para o córtex cerebral. Além disso, há a compreensão de que, para algumas sensações, o tálamo ocupa um lugar ainda mais importante, por exemplo, quando a sensação é de dor, tato ou relacionada à temperatura, existe mesmo uma interpretação talâmica. Essa espécie de interpretação primária, mas de razoável influência, foi demonstrada em experimentos com pacientes que sofreram lesões em áreas corticais relacionadas com as sensações táteis e revelaram que, embora em tais casos as sensações táteis deveriam estar completamente ausentes, ainda havia uma pequena interpretação ocorrendo, sendo ela de dor, peso ou forma dos objetos. Havia claro, perda considerável dos detalhes que normalmente estão presentes nessas tarefas, mas o fato de haver uma percepção talâmica confirma ainda mais a importância dessa estrutura.
O tálamo possui diversas outras conexões que fazem com que ele tenha então funções diferentes das já citadas sensoriais. As outras funções mais conhecidas do tálamo se relacionam com a motricidade, tendo conexões em que transporta informações do globo pálido e do cerebelo para o lobo frontal, ao comportamento emocional – fazendo parte do sistema límbico – já que tem seus núcleos anteriores se relacionando com o hipotálamo e seu núcleo dorso-medial com a área pré-frontal, e mesmo participação no sono, tendo em vista que alguns de seus núcleos se projetam de forma difusa pelo córtex, se conectando ao sistema ativador reticular ascendente (SARA), importante para a regulação do sono e da vigília.
Os estudos de uma síndrome interessante permitiu revelar a importância do tálamo para os aspectos sensoriais que nos permitem extrapolar a partir do que é sentido do mundo real para o mundo percebido, conhecida como síndrome talâmica. A síndrome talâmica surge em decorrência de afecções do tálamo, geralmente fruto de lesões de vasos, o que reflete em um grande desnivelamento das sensações. Tais alterações dramáticas são geralmente sensações de dor espontânea e pouco localizada, que se irradia por toda a metade do corpo oposta à posição do tálamo comprometido. Apesar de mais difíceis, alguns quadros dessa síndrome são referentes a outros estímulos sensoriais, como por exemplo, térmicos ou táteis. Um paciente pode, a partir de uma pequena estimulação, começar a sentir uma ardência pelo corpo, tais alterações sensoriais são desagradáveis e dificilmente caracterizadas pelos pacientes.
Na literatura aparecem casos de pacientes que já não podiam ouvir músicas ou sons muito altos, pois estes terminavam por desencadear um efeito onde novamente sensações desagradáveis por metade do corpo surgiam. A explicação para esse efeito intenso pode ser entendido como fruto de alterações nos mecanismos e circuitos intratalâmicos ou tálamo-corticais, enquanto os outros permaneceriam intactos. Tentativas de tratamento da síndrome talâmica por cirurgia têm sido bem sucedidas.
O tálamo se encontra então em posição peculiar no caminho que leva à nossa compreensão do mundo, embora pouco conhecido e citado em meios que não os científicos, seus aspectos de organização, tradução e interpretação de sensações são fundamentais para a completude dos processos que levam as mínimas alterações ambientais à percepção consciente. Além disso, deve-se ao tálamo a triagem diligente de muitos dos estímulos sensoriais, selecionando quais devem seguir para o córtex e quais poderão ser esquecidos, assim, nem tudo que é sentido é, por fim, percebido. Enquanto lê esse texto, o seu tálamo ativamente seleciona informações importantes acerca das cores da página, dos sons ouvidos ao fundo, entre outros estímulos, a sua secretária está ativamente ajustando a compreensão do mundo ao seu redor, então, na próxima vez em que pensar sobre como você está se sentindo, lembre-se, o tálamo sentiu primeiro.
Herrero, M., Barcia, C., & Navarro, J. (2002). Functional anatomy of thalamus and basal ganglia Child's Nervous System, 18 (8), 386-404 DOI: 10.1007/s00381-002-0604-1
Livros para o estudo da psicologia

Durante meu tempo de formação, percebi que estudantes em início de curso e mesmo alguns já adiantados, mas com pouco estudo em alguma área específica, tendem a pedir dicas de livros que sejam referências e que permitam a eles conhecer um pouco mais de áreas da psicologia com as quais tiveram pouco contato.
Pensando nisso, decidi fazer aqui uma lista contendo alguns livros interessantes de áreas diversas e que em seu texto permitam ao estudante ainda com pouco conhecimento teórico – ou mesmo a um curioso vindo de outra área – entender os conceitos básicos e, principalmente, utilizar a terminologia da ciência psicológica de forma correta.
O primeiro post do blog CogPsi é, então, uma tentativa de concatenar livros-textos introdutórios em psicologia que sejam tranquilos de ler, tenham sido traduzidos para o português ou, quando possível, sejam escritos por autores brasileiros. Segue a lista:
Introdução e História da Psicologia
- “Introdução à Psicologia”, Davidoff (1983).
- “História das Idéias Psicológicas”, Penna (1981).
- “História da Psicologia Moderna”, Schultz & Schultz (1995).
Linguagem
- “Comportamento Verbal”, Skinner (1957).
- “O Instinto da Linguagem”, Pinker (2004).
- “Pensamento e Linguagem”, Vygotsky (1987).
Neurociência do Comportamento
- “As Bases Biológicas do Comportamento: Introdução à Neurociência”, Brandão (2004).
- “Cem Bilhões de Neurônios: conceitos fundamentais da neurociência”, Lent (2004).
- “Neurociência Cognitiva”, Irvin, Mangun & Gazzaniga (2008).
- “Princípios da Neurociência”, Kandel, Schwartz & Jessel (1991).
Neuropsicologia
- “Fundamentos da Neuropsicologia”, Luria (1981).
- “Neuropsicologia: Teoria e prática”, Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo & colaboradores (2008).
- “Neuropsicologia Hoje”, Andrade, Santos & Bueno (2004).
Psicofarmacologia
- “Fundamentos de Psicofarmacologia” Graeff & Guimarães (1993).
- “Psicofarmacologia: base neurocientífica e aplicações práticas.” Stahl (2002).
Psicologia Cognitiva
- “A Nova Ciência da Mente”, Gardner (1996).
- “Introdução à Psicologia Cognitiva”, Penna (2006).
- “Psicologia Cognitiva”, Sternberg (2000).
- “Psicologia Cognitiva: Um manual introdutório”, Eysenck & Keane (1994).
Psicologia da Aprendizagem
- “Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição”, Catania (1999).
- “Ciência e Comportamento Humano”, Skinner (1953).
- “Teorias da Aprendizagem”, Hilgard (1975).
Psicologia da Percepção
- “Percepção”, Forgus (1981).
- “Princípios de Psicologia da Gestalt”, Kofka (1975).
- “Psicologia da Percepção”, Simões & Tiedemann (1985).
Psicologia da Saúde/Hospitalar
- “Psicologia e Saúde”, Campos (1996).
- “Psicologia Hospitalar: Teorias, aspectos e casos clínicos”, Dias (2010).
- “Saúde e sociedade”, Donnangelo & Pereira (1976).
Psicologia do Desenvolvimento
- “A Linguagem e o Pensamento na Criança”, Piaget (1923).
- “A Psicologia do Envelhecimento: uma introdução”, Stuart-Hamilton (2002).
- “O ciclo da vida completo”, Erikson (1998).
- “O Desenvolvimento da Criança e do Adolescente”, Cole & Cole (2003).
- “O Desenvolvimento Psicológico na Infância”, Vygotsky (1999).
Psicologia do Esporte
- “Psicologia do Esporte” Rúbio (2000).
- “Psicologia do Esporte”, Samulski (2008).
Psicologia do Trânsito
- “Comportamento Humano no Trânsito”, Hoffman, Cruz & Alchieri (2003).
- “Psicologia do Trânsito: conceitos e processos básicos”, Rozestraten (1988).
Psicologia Clínica e Psicoterapia
- “Aprendendo a Terapia Cognitivo-Comportamental – Um guia ilustrado” Wright, Basco & Thase (2006).
- “Terapia Cognitiva: Teoria e prátical” Beck (1997)
- “Terapia Comportamental e Cognitivo-Comportamental”, Abreu & Guilharde (2004).
Psicologia Escolar
- “Psicologia Escolar: Pesquisa, formação e prática”, Wechsler (1996).
Psicologia Evolucionista
- “A Mente Seletiva”, Miller (2001)
- “A Perigosa Idéia de Darwin: a evolução e os significados da vida”, Dennett (1995).
- “Como a Mente Funciona”, Pinker (1998).
- “Fundamentos de Psicologia – Psicologia Evolucionista”, Otta & Yamamoto (2009).
Psicologia Experimental e Metodologia científica
- “Ciências Psicológicas: mente, cérebro e comportamento”, Gazzaniga & Heatherton (2005).
- “Psicologia Experimental: Uma abordagem metodológica”, McGuigan (1976).
- “Psicologia Experimental: Psicologia para compreender a pesquisa em psicologia”, Kantowitz, Elmes & Roediger (2006).
Psicologia Jurídica
- “Psicologia Jurídica”, Rovinski & Cruz (2009).
Psicologia Organizacional e do Trabalho
- “Psicologia Organizacional”, Schein (1982).
- “Psicologia, Organizações e Trabalho”, Zanelli, Borges-Andrade & Bastos (2004).
- “Trabalho, Organização e Cultura”, Tamayo, Borges-Andrade & Codo (1997).
Psicologia Social
- “Introdução à Psicologia Social”, Kruger (2006).
- “Psicologia Social”, Álvaro & Garrido (2007).
- “Psicologia Social”, Myers (2000).
Psicometria
- “Avaliação Psicológica: Conceitos, métodos, medidas e instrumentos”, Alchieri & Cruz (2004).
- “Teorias e métodos de medidas em ciências do comportamento”, Paquali (1996).
Psicopatologia
- “Compêndio de Psiquiatria”, Kaplan & Sadock (1999).
- “Psicologia dos Transtornos Mentais”, Holmes (1997).
- "Psicopatologia - Um Abordagem Integrada", Barlow & Durand (2008).
Então é isso, espero que essa lista se torne útil para aqueles ainda no princípio dos estudos, sejam os que cursam e desejam ser profissionais na área, os curiosos com o desenvolvimento desta disciplina ou mesmo aquele que eventualmente cair sem querer nesta página.
Como algumas áreas da psicologia ainda estão em desenvolvimento extremamente ativo, sem um livro que possa ser considerado clássico, e mesmo como a extensão do meu conhecimento acerca de quais seriam os livros fundamentais de algumas outras áreas é limitada, é válido lembrar que esta lista poderá ser modificada, por isso, o espaço para comentários ficará aberto para dicas sobre quais livros deveriam ou não pertencer a ela, ou mesmo dúvidas acerca da lista.
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