27.2.12
Desbravando a ciência psicológica brasileira
Postado por
Marcus Vinicius Alves
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psicologia geral
23.2.12
Quem tem medo de Estatística? - Parte I
Postado por
Marcus Vinicius Alves
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formação,
psicologia geral
texto escrito por mim e pelo André Luiz Souza do blog Cognando
Se você acabou de passar no
vestibular e vai começar a cursar Psicologia, parabéns! Bem vindo ao clube! E
se você teve a curiosidade de verificar a grade curricular do seu curso, deve
ter notado que, apesar de variar de universidade para universidade, você terá
que cursar pelo menos uma ou duas disciplinas de estatística. Isso mesmo! Você
não leu errado, não. É estatística mesmo. E já sabemos o que você está
pensando: “Poxa vida! Escolhi Psicologia
justamente para fugir de matemática e disciplinas exatas! Aí não vale!” É
fato: dez em cada quinze graduandos em Psicologia odeiam a simples idéia de ter
que lidar com números e fórmulas novamente. Mas não se preocupe. A boa notícia
é que a história não precisa ser assim.
Estudar estatística não é um
bicho de sete cabeças, estatística não é uma disciplina difícil. E no final das
contas, é possível sim chegar à pós-graduação tendo um conhecimento sólido e
robusto sobre estatística e, o mais importante, um conhecimento sólido e
robusto sobre como utilizá-la.
Mas por que toda essa
aversão à estatística por parte de alunos de Psicologia? Por que será que eles
temem tanto essa disciplina? Na nossa opinião, são vários os motivos que levam
os alunos de Psicologia a não gostarem de estatística. Vamos tentar, nessa
postagem, desmascarar alguns desses motivos e mostrar que estudar estatística
pode ser até divertido.
Estatística não é matemática.
O primeiro grande motivo que
leva os alunos de Psicologia (e em certa medida alunos das ciências sociais e
humanas em geral) a odiarem ou temerem estatística é a conexão inevitável (e
muitas vezes errônea) que se faz entre estatística e matemática. Vamos começar
sendo bem diretos: Estatística não é matemática. Estatística não é nem um ramo
da matemática. É óbvio que matemática faz parte da realidade do estudo da
estatística, mas o fundamental da estatística não é saber matemática. Um
engenheiro, por exemplo, precisa saber matemática, mas ninguém diz que
engenharia é um ramo da matemática. E mais ainda: ninguém diz que o simples
fato de saber matemática faz de uma pessoa um bom engenheiro. Uma lógica
parecida acontece com a estatística: saber matemática não te faz ser uma pessoa
boa em estatística. A matemática é, na verdade, a ferramenta que se utiliza
para a formalização das idéias estatísticas. A matemática somente passa a ser
cogente para o campo da estatística quando o objetivo é desenvolver teorias
estatísticas (o que não é o caso da maioria dos psicólogos que a utilizam). A
prática da estatística não requer conhecimento profundo de matemática. Pelo
contrário. O tipo de conhecimento necessário para o profissional que utiliza
estatística é bem diferente do conhecimento necessário para o profissional que
desenvolve estatística. Para o profissional que utiliza estatística é
necessário um conhecimento mais profundo acerca da utilidade da ferramenta
estatística. Esse ponto nos leva para o segundo motivo pelo qual as pessoas
odeiam estatística: a maioria das pessoas não sabem nem pra que ela serve.
Para que estudamos estatística?
Uma das principais
características da cognição humana é o fato de que, sob condições de incerteza,
nossa mente funciona em níveis pouco funcionais. Em outras palavras, quando não
sabemos o porquê de algum evento e/ou acontecimento, o nosso sistema cognitivo
se ‘sente’ atrapalhado e não funciona
direito. É possível que isso aconteça no estudo da estatística. Na maioria das
vezes, os alunos não fazem a menor idéia do porquê devem estudar estatística. Não
sabem nem para que serve a disciplina e qual é a conexão dela com o estudo da
psicologia. Mas afinal de contas, para que estudamos estatística? Essa pergunta
pode ser respondida sob duas perspectivas: em termos práticos e em termos científicos.
Em termos práticos, você estuda estatística por que ela é uma ferramenta
importante no tipo de metodologia que se utiliza na construção de conhecimento em
psicologia. Estatística é ferramenta fundamental em um design
experimental. Assim, para entender resultados de pesquisa divulgados em um
artigo científico, por exemplo, é necessário conhecimento de estatística. Em
termos mais práticos ainda, se você pretende fazer um doutorado no exterior,
por exemplo, conhecimento de estatística é mandatório na maioria dos programas
(alguns programas chegam a exigir comprovação desse conhecimento em forma de
certificados, por exemplo).
Em termos teóricos, nós
psicólogos estudamos comportamento humano. Por definição, o que caracteriza a
beleza do nosso trabalho é o fato de que o comportamento das pessoas varia. A estatística
é a ferramenta que nos ajuda a compreender - de maneira sistemática - essa
variação. É simples assim. Estatística só faz parte do nosso cotidiano por que
lidamos diretamente com variação. Todo e qualquer teste estatístico que você
aprender daqui pra frente (não importa o grau de sofisticação do procedimento:
ANOVA, Teste t, Regressão Simples ou Múltipla e até mesmos Análises de
Agrupamento, PCA, Séries Temporais e Inferência Bayesiana) tenha isso em mente:
o que se quer entender é a variação que existe nos dados. Pronto! Se você
conseguir pensar assim toda vez que estiver lidando com estatística, você vai
notar que (1) ela não é tão difícil assim, pois a maneira que utilizamos para
mensurar variação é a mesma em vários testes diferentes e (2) é até divertido
entender a variação das coisas de maneira sistemática. É importante ressaltar a
idéia de “auxílio” que a estatística tem. Uma das principais frustrações de
alunos que estudam estatística é quando eles descobrem que estatística por si
só não prova nada.
Estatística não prova nada
É muito comum encontrar
pessoas que acreditam que análise estatística é uma maneira de provar os
resultados de uma pesquisa, terminando por se afastar desta disciplina a partir
da crença de que esta tenderia a ser determinista – onde a pretensão da
aplicação estatística às pesquisas em psicologia seria determinar quando e
porque comportamentos obrigatoriamente ocorreriam. Essa forma de pensar a estatística
está errada. Estatística não prova nada. E quando o aluno descobre isso, vem a
frustração. Por isso vale ressaltar a idéia de que “estatística é a simples
ferramenta que ajuda a compreender variação”. Ela não explica a variação e nem
prova a causa dessa variação. Tudo na vida varia. Nós seres humanos, estamos
mais que acostumados com a variação das coisas e a estatística apenas nos ajuda
a entender até que ponto a variação que vemos em alguma coisa é uma variação
normal (esperada e que não nos causa nenhuma surpresa), ou é uma variação
surpreendente, ou seja, uma variação que ninguém espera encontrar. A
estatística simplesmente nos ajuda a “localizar” essa variação inesperada. No
entanto, ela não faz o nosso trabalho intelectual que é buscar respostas para a
causa dessa variação.
Uma análise estatística nos
auxilia a corroborar ou refutar hipóteses. Um exemplo: Se você pega um copo de
café com leite, é impossível dizer o que foi colocado no copo primeiro, o café
ou o leite. Certamente você vai rir da nossa cara se dissermos que Joãozinho
tem o poder de adivinhar qual líquido foi colocado primeiro. Mas como
cientista, você não deve rir, mas sim testar essa hipótese: Joãozinho tem o
poder de adivinhar! Para testar é simples: vamos fazer um copo de café com
leite sem que ele saiba e perguntar a ele o que foi colocado primeiro. Vamos
fazer isso uma vez. Vamos supor que ele acerte. Isso prova que ele tem o poder
de adivinhar? Certamente que não! Ele pode ser acertado “no chute”. Então vamos
fazer 2 vezes. Suponhamos que ele acerte as duas. E agora? Isso prova que ele
tem o poder de adivinhar? Ainda não. Ok. Vamos fazer 100 copos de café com
leite. Suponhamos que ele acerte 97. E agora? Isso prova que ele tem o poder?
Ainda não, mas tenho certeza que você vai estar coçando sua cabeça e dizendo
“aí tem coisa”. A idéia básica da estatística é essa: te ajudar a perceber que
“aí tem coisa”. O seu trabalho como intelectual é levantar hipóteses sobre “o
que pode ser” e testar essas hipóteses (assim como fizemos com o copo). No
final, você não prova nada, mas fica ou não intrigado por um fenômeno e avança
na investigação das suas causas.
Estatística é fundamental para a ciência empírica
A utilização da estatística é fundamental para a
construção do saber científico. Embora não seja uma totalidade, grande parte da
ciência é pautada em hipóteses que podem ser submetidos a uma testagem e
experimentação, e essa testagem vem na forma de análises estatísticas densas. E
no final, mesmo a possibilidade de formação de um argumento crítico a alguma
teoria depende intensamente do conhecimento acerca das análises feitas. É muito
comum estudantes de psicologia passarem a graduação longe das áreas científicas
do seu curso e ao se formarem perceberem suas dificuldades com leitura e
compreensão de artigos científicos (afinal, não compreendem por inteiro as
análises feitas) e assim, tendo pouca capacidade para criticá-los.
Este texto vem como um primeiro passo para entender a
importância da disciplina estatística para os psicólogos, há muito ainda a ser
discutido, como o que seria o índice ‘p’, de onde ele vem e porque ele é tão
utilizado para embasar os estudos realizados. Outro ponto é a importância desta
disciplina para o profissional de psicologia, não só para o cientista, mas para
aqueles que da área aplicada. Será realmente que não há necessidade alguma de
aprender o funcionamento desta ferramenta? Deixamos essas reflexões por
enquanto e pretendemos dar continuidade a essas discussões, mas é sempre
interessante lembrar que se a uma prática baseada em evidências se faz
importante, só a partir da análise criteriosa dos dados encontrados isso será
possível. E essa análise cabe a você também, futuro profissional da psicologia.
16.2.12
Podcasts de Psicologia
Postado por
Marcus Vinicius Alves
|
Categorias:
ciência,
formação,
neurociências,
psicologia geral,
tecnologia
Podcast
é o nome dado a arquivos de áudio publicados na internet onde, basicamente,
você poderá sempre ouvir discussões, mesas-redondas, entrevistas e afins sobre
o tema que desejar.
Como
não poderia deixar de ser, há também os podcasts relacionados com a psicologia
e apresentados por grandes professores. Alguns que encontrei recentemente
são bons podcasts de psicologia, todavia, esses podcasts são todos em
inglês, mas em breve, quem sabe, surjam os Podcasts de psicologia em português,
apresentados por professores da área e abordando a realidade das pesquisas nacionais.
Confira uma lista:
60-Second
Mind: Um podcast de um minuto sobre as últimas novidades em pesquisas sobre
cérebro e comportamento, atualizado aos Sábados.
All
in the Mind from ABC Radio Australia: Podcast semanal apresentado por uma
jornalista da ciência chamada Natasha Mitchell sobre cérebro e comportamento que
aborda temas como sonhos, depressão, vício, inteligência artificial etc.
All
in the Mind BBC: Outro podcast semanal. Neste o foco são os limites da mente
humana, tratando de distúrbios do sono ou de programas de saúde mental. Em um
episódio recente o prêmio Nobel Daniel Kahneman foi entrevistado.
Cognitive
Daily Podcast: Podcast gerido por Greta e David Munger, que debate os tópicos
recentes em ciência cognitiva.
Psychology
164: Social Cognition: Podcast do professor John Kihlstrom da Universidade da
Califórnia. Exclusivo sobre tópicos da Cognição Social, como percepção social,
categorização social e julgamento social.
The
Brain Science Podcast: O médico Ginger Campbell discute as novidades das
neurociências. Um post recente abordou o livro “Muito Além do Nosso Eu” do
neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.
The
Psychology of Attractiviness: Podcast publicado mensalmente onde são abordados
temas como traição, ciúme e relacionamentos em geral.
This
Is Psychology Podcast: Norman Anderson, chefe executivo da APA, traz discussões
acerca de trabalhos que estão sendo publicados atualmente com temas variados
como saúde mental e bullying.
The
Wise Council Podcast: Podcast para terapeutas. Aqui o psicólogo David Nuys
apresenta discussões sobre tratamentos psicoterápicos e entrevistas com outros
psicoterapeutas.
Depois
de um hiato, uma pausa na publicação de textos – bem longa, admito – o Cogpsi
finalmente voltou, ou melhor, está voltando, pois esse não é um texto “oficial”.
Espero a partir de agora poder voltar a postar textos sobre psicologia com mais
frequência. O motivo principal dessa pouca produção do Cogpsi nesse final de
2011 era a intensa luta deste que vos escreve para conseguir se adaptar não só
à capital paulista, como também para poder organizar a vida em relação aos
projetos, artigos e trabalhos do mestrado que aparecem aos montes e sem aviso
prévio. Depois ainda dizem que mestrando “só” faz estudar... Isso é um emprego!
Bom,
passada a tempestade vem... Acredito que outras tempestades, mas agora com uma
noção melhor de como lidar com elas.
Alguns
planos para melhorar a qualidade dos textos e permitir uma interação legal com
autores de outros blogs que gosto muito começaram a surgir, como o com o André
do Cognando, onde escreveremos um texto em conjunto. Esse texto tratará sobre
estatística e o seu difícil relacionamento com o estudante de psicologia, digo
isso porque sempre adorei estatística e tal ponto sempre se fez extremamente
visível durante a minha formação. Principalmente pelas reclamações dos meus
colegas. A partir daí, deste texto inicial, quem sabe, penso abordar sempre os
pontos da formação em psicologia – e em outras áreas – em que os estudantes
mais se veem incomodados e desmotivados, às vezes pela inicial motivação e
crenças com que entram nos cursos, outras pelo ensino frágil não só da
graduação, como também da própria formação colegial. Outro projeto é com outro
André, mas o dos blogs Ciência Uma Vela no Escuro e do SocialMente, este ainda
está no início e a ideia surgiu do André e por isso talvez seja melhor esperar
um pouco antes de anunciar, mas acredito que vai ser muito interessante.
Além
disso, continuo aceitando textos de outros autores, dispostos a contribuir com
a produção por aqui. Inicialmente o Cogpsi nasceu fruto de uma necessidade
pessoal de escrever sobre tudo que eu lia ou via relacionado com psicologia e
com a pretensão de desembaçar um pouco a visão daqueles que acompanham os blogs
de psicologia por aí, pois via neste meio pouca abertura teórica, a maioria dos
blogs retratavam apenas um tipo de compreensão da psicologia, havia poucos
textos baseados em artigos e trabalhos realmente atuais e pouca flexibilidade
para abordar os mais variados temas da psicologia, muitas vezes apelando sempre
para o mesmo autor ou livro, e superestimando o alcance e tamanho das
capacidades interpretativas, científicas e históricas destes. Por isso acredito
que outras pessoas também sintam esse desejo de debater acerca da psicologia
como ela tem sido feita atualmente de verdade, mas não tenham vontade para
criar um blog para isso. E o espaço do Cogpsi estará sempre aberto.
Nesse
período em que o blog ficou parado, muita gente me perguntou quando eu iria
escrever outro texto e reclamou dessa situação, e peço desculpas por esse
desleixo. Pelas estatísticas do blog foi possível ver que muita gente ainda
continuou clicando por aqui mesmo com ele parado, talvez procurando verificar
se ele estaria sendo atualizado, talvez para reler algum texto, enfim, o
importante é ver que o blog ainda estava em movimento nesse tempo.
Então
é isso, esse post vem mais para relembrar àqueles que liam o Cogpsi da nossa
existência e avisar que voltaremos à programação normal.
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