A correria das cidades, a
falta de tempo para realizar todas as tarefas requeridas diariamente, o afastamento
das pessoas com que se convive, o embotamento afetivo e a presença cada vez
mais intensa de estímulos distratores tem feito vir à tona um número expressivo de casos em que pessoas se encontram inquietas e incapazes de focar sua atenção, e assim, a mídia vai
considerando esta incapacidade como um possível mal do século. Veja esse vídeo:
Achei esse vídeo
interessante, é de um grupo que resolveu filmar uma série chamada “Fala que eu não te
escuto”, nele, um dos integrantes pede informações para as pessoas e
aproveita emendando frases absurdas em sua fala. Frases estas que acabam passando
despercebidas. No vídeo as perguntas vão progressivamente sendo feitas com mais
clareza, mais altas e, inclusive, com auxílios visuais, como tirar a camisa para
tentar fazer o estímulo ser mais perceptível. Mesmo assim as pessoas se atém
somente em responder à pergunta feita. Seria esse apenas um sinal de desinteresse
com o dito após a pergunta ou uma incapacidade relacionada ao processamento corrente da própria pergunta feita e que interfere a apreensão de informações que seriam possivelmente irrelevantes?
A atenção pode ser
definida como a alocação preferencial de recursos cognitivos para eventos que
sejam mais relevantes para o indivíduo, é um tipo de processamento que permite
a seleção de estímulos, e se caracteriza como o nome dado ao caráter direcional
e à seletividade dos processos mentais organizados. A atenção não é mediada por
uma única região cerebral, e nem pelo cérebro como um todo, mas por redes
neurais, sendo uma delas difusa, que se caracteriza pela atenção global, ocorrendo no
Tálamo e nos dois hemisférios cerebrais, e a focal, possuindo especialização espacial,
se localizando em regiões frontais e parietais, principalmente no hemisfério
direito do cérebro.
A atenção, ao permitir
o processamento de uma quantidade limitada de informações de forma
qualitativamente independente, pode ser dividida em subtipos, como
a atenção seletiva, onde ocorre o foco em um estímulo de cada vez. A atenção seletiva ocorre quando há a seleção de parte de
estímulos disponíveis para o processamento, onde as outras informações
disponíveis ficariam então ‘suspensas’, direcionando o foco para estímulos
relevantes em detrimento de distratores – tanto internos (que seriam traços de
memória), quanto externos (como exemplo, no vídeo, a fala ignorada pelas
pessoas). A atenção
seletiva pode modular o processamento de informação antes mesmo de serem
apresentadas tarefas ou estímulos, sendo crucial para a eficiência da tarefa
posterior. Ou seja, quando um carro se aproxima de um indivíduo parado na rua,
já se inicia uma preparação para a tarefa que está por vir – pois a pessoa
previamente deve supor que alguma informação será pedida - e assim, o
processamento direcionado para a resolução da tarefa, uma seleção que exclui qualquer informação desnecessária. Outra característica do processo atencional é que nele ocorre também uma
alternância no direcionamento do foco dos estímulos, poderíamos supor que se o
nome dessas pessoas fosse chamado ela tenderia a prestar atenção novamente ao
que falava o indivíduo, mesmo que somente em algumas informações, ou, por
exemplo, se ao invés de um homem sem camisa, estivesse na direção do veículo uma
mulher, pois tal quadro é muito mais incomum.
Diversas funções
cognitivas dependem da atenção. A incapacidade
de selecionar estímulos e prestar atenção neles acaba por influenciar também o
esquecimento, pois a atenção é altamente relacionada com a memória, a recordação de informações
necessitam antes que estas tenham sido percebidas de forma precisa, com
atenção. Ademais, esta incapacidade favorece o
automatismo, ou seja, onde as pessoas agem sem ter um controle consciente das suas ações,
devido, por exemplo, a ter um grande número de estímulos disponíveis e pouco tempo para
selecioná-los.
Outro fator que age diretamente na atenção é o interesse e a necessidade do indivíduo, pois estes motivam e guiam a seleção dos estímulos, como exemplo temos o dito pelas mães sobre os filhos que conseguem prestar atenção em um videogame ou um programa de televisão, mas não às suas “sugestões” de arrumar o quarto ou nas instruções básicas do manual materno de como evitar morrer por hipotermia ao usar o casaco ao sair de casa (em qualquer horário, com qualquer temperatura). Diversas desordens psiquiátricas sofrem déficits atencionais, como exemplo, o famoso Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). No TDAH o que acontece não é uma incapacidade de selecionar os estímulos mais interessantes para si, mas sim o impedimento da 'inibição ativa' de estímulos, ou seja, a criança ou adulto não consegue impedir que estímulos distratores façam com que ela perca a atenção em uma tarefa, por mais motivadas que estejam a conseguir esse foco. Essa é uma compreensão importante do TDAH, pois como é um transtorno infantil e muitas vezes relacionado com um mau desempenho escolar, acabam-se criando justificativas plausíveis, porém irreais, para a desatenção que acomete esses indivíduos, como a pobreza, diferenças entre classes sociais, uma má relação familiar, entre outros. A atenção é sim influenciada por diversos fatores, tanto ambientais quanto internos, tanto sociais quanto fisiológicos, e mesmo o sistema de crenças e a memória dos sujeitos, mas os déficits atencionais encontrados em crianças e adultos com TDAH estão presentes em famílias de qualquer classe social, com crianças bem ou mal estimuladas, e em famílias estruturadas ou não. Todos esses pontos podem agravar um caso de TDAH, mas não causá-lo.
Outro fator que age diretamente na atenção é o interesse e a necessidade do indivíduo, pois estes motivam e guiam a seleção dos estímulos, como exemplo temos o dito pelas mães sobre os filhos que conseguem prestar atenção em um videogame ou um programa de televisão, mas não às suas “sugestões” de arrumar o quarto ou nas instruções básicas do manual materno de como evitar morrer por hipotermia ao usar o casaco ao sair de casa (em qualquer horário, com qualquer temperatura). Diversas desordens psiquiátricas sofrem déficits atencionais, como exemplo, o famoso Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). No TDAH o que acontece não é uma incapacidade de selecionar os estímulos mais interessantes para si, mas sim o impedimento da 'inibição ativa' de estímulos, ou seja, a criança ou adulto não consegue impedir que estímulos distratores façam com que ela perca a atenção em uma tarefa, por mais motivadas que estejam a conseguir esse foco. Essa é uma compreensão importante do TDAH, pois como é um transtorno infantil e muitas vezes relacionado com um mau desempenho escolar, acabam-se criando justificativas plausíveis, porém irreais, para a desatenção que acomete esses indivíduos, como a pobreza, diferenças entre classes sociais, uma má relação familiar, entre outros. A atenção é sim influenciada por diversos fatores, tanto ambientais quanto internos, tanto sociais quanto fisiológicos, e mesmo o sistema de crenças e a memória dos sujeitos, mas os déficits atencionais encontrados em crianças e adultos com TDAH estão presentes em famílias de qualquer classe social, com crianças bem ou mal estimuladas, e em famílias estruturadas ou não. Todos esses pontos podem agravar um caso de TDAH, mas não causá-lo.
Voltando ao vídeo, ele seria um retrato do desleixo com o ouvir ou é uma apresentação da forte concorrência entre o processamento requerido com o pedido de informação e a
capacidade de atenção? Em texto anterior, foi falado sobre a categorização que
ocorre entre as pessoas e como uma indisponibilidade atencional facilita pensamentos
estereotipados, igualmente, com a sobrecarga do processamento ao realizar
diversas tarefas, o resultado é uma seleção de estímulos que acaba por não se
considerar as frases ditas posteriormente. No vídeo do "Fala que eu não te escuto" a tarefa interfere na possível aquisição das outras informações.
Só mais um vídeo, esse de uma campanha antiga e você já deve conhecer, mas vale a pena vê-lo de novo:
Só mais um vídeo, esse de uma campanha antiga e você já deve conhecer, mas vale a pena vê-lo de novo:
Resumindo, a Atenção é
importante e existe por ter sido um processo que durante a evolução foi fundamental para a sobrevivência, permitindo o foco em informações mais pertinentes para esta, e até hoje pode ser a linha que garante que algumas vidas sejam salvas ou pelo menos não sejam tiradas, como em acidentes de trânsito. Ou quando nós formos explodir uma bomba no Ibirapuera algum dia...
Hã?
Coutinho, G.; Mattos, P.; & Abreu, N. (2010).
Atenção. Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed.
Karatekin, C. (2001). Developmental disorders of
attention. In C. A. Nelson & M. Luciana (Eds.), Handbook of
Developmental Cognitive Neuroscience (pp. 561-576).
Cambridge, MA: MIT Press.
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