* André Rabelo



Quem nunca brincou de tentar adivinhar o que outra pessoa estava pensando? Será que conseguiremos algum dia pedir para alguém pensar em alguma coisa e então adivinhar, sem que a pessoa fale absolutamente nada? Ao que parece, os primeiros passos para isso acontecer estão sendo dados pelo pessoal do Gallant Lab, na Universidade da Califórnia, Berkeley.
Eu já havia traduzido um texto no blog SocialMente comentando sobre o artigo publicado na revista Current Biology, onde o pessoal deste laboratório conseguiu, a partir de registros da atividade neural dos participantes, reconstituir de maneira aproximada as imagens que os participantes observavam. Neste link, tem o vídeo comparando as reconstituições obtidas com as imagens que de fato os participantes olharam.
ResearchBlogging.orgDesta vez, os destemidos membros deste laboratório publicaram um estudo na revista PLoS Biology onde eles conseguiram, novamente a partir da atividade neural, reconstruir palavras nas quais os participantes estavam pensando. Em outras palavras, eles conseguiram adivinhar a palavra que a pessoa estava pensando só a partir da atividade elétrica do cérebro dos participantes! Sim, é isto mesmo, você não está lendo nada errado!
Para alcançar este feito, os pesquisadores utilizaram um técnica invasiva de registro neural. Os registros  eletrocorticográficos (ECoG) são obtidos através de eletrodos colocados na superfície do cérebro, após uma incisão no crânio. Eu até pensei em trazer uma imagem para deixar mais claro como isso funciona, mas as imagens eram meio desagradáveis…
Após colocar estes fiozinhos na cabeça de 15 voluntários, os cientistas mediram a atividade elétrica de populações de neurônios em resposta a diversas palavras e frases emitidas por uma voz feminina gravada. A partir destes dados, os pesquisadores desenvolveram  um algoritmo (programa de computador) capaz de relacionar padrões de atividade neural com as estimulações auditivas. Com este algoritmo em mãos, eles mostraram então listas de palavras aos voluntários e pediram que eles escolhessem uma palavra  e pensassem nela. A partir da atividade neural dos voluntários enquanto pensavam na palavra e do algoritmo desenvolvido, os cientistas foram capazes de descobrir com uma grande acurácia as palavras nas quais os voluntários estavam pensando.
Apesar de ser um resultado assustador para alguns que querem proteger seus pensamentos, esta pesquisa pode beneficiar muitas pessoas que, por algum motivo, não conseguem controlar os músculos envolvidas na fala, apesar de não ter os mesmos prejuízos em sua capacidade cognitiva. Pessoas com paralisias graves como as que ocorrem em casos de tetraplegia, por exemplo, poderiam se comunicar utilizando um aparelho capaz de reconstruir as suas falas. Esta pesquisa, além de estimular nossas imaginações futuristas e contribuir para a melhor compreensão de como alguns processos cognitivos ocorrem no cérebro, pode ajudar algumas pessoas a voltar a falar com o simples pensamento!

Referências

Pasley, B., David, S., Mesgarani, N., Flinker, A., Shamma, S., Crone, N., Knight, R., & Chang, E. (2012). Reconstructing Speech from Human Auditory Cortex PLoS Biology, 10 (1) DOI: 10.1371/journal.pbio.1001251

* André Rabelo é estudante de graduação do curso de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB). Além de ser editor dos blogs Ciência - Uma Velha no Escuro e SocialMente, é colaborador do Blog de Astronomia do astroPT e do Bule Voador.

0 comentários:

Postar um comentário

Subscribe