Texto publicado no Ao Feminino e Além

A realidade às vezes é tão graciosa que em alguns momentos se esconde nos clichês mais batidos do conhecimento popular. Veja bem, não há nada que um clichê bem empregado e sob o controle certeiro e objetividade das evidências não possa demonstrar de forma interessante e clara. O último destes clichês que foi corroborado pode ser considerado uma comprovação para ser comemorada de algo que já era esperado, pois vai servir de argumento contra discurso conservador e fundamentalista que, baseado apenas em preconceito, possa vir a se colocar contra a adoção de filhos por casais do mesmo sexo. Um estudo recentemente publicado no periódico Demography, realizado pelo sociólogo Michael Rosenfeld, e que – segundo o próprio Rosenfeld – é o estudo com crianças cuidadas por pais do mesmo sexo com a maior amostra já coletada, demonstrou que o mais importante para um bom desenvolvimento e futuro sucesso educacional de uma criança não é a orientação sexual de seus pais, mas corroborou com aquilo que humanistas liberais já sabiam, sendo o tal clichê supracitado: Nada é mais importante que a família!
Ou melhor, o importante é ter uma família.
Uma família bem estruturada é fundamental para um bom desenvolvimento de uma criança, a saúde mental desta está altamente relacionada com o que acontece dentro das quatro paredes de seu lar, e isso pouco tem a ver com o quarto dos pais. Segundo Rosenfeld, filhos de uma relação “não tradicional” (assim ele chama no artigo) se saem tão bem quanto filhos de casais tradicionais em diversos fatores, como notas na escola ou sociabilidade, e muito melhor em diversos fatores do que crianças que vivem em orfanatos ou em famílias extremamente disfuncionais e desestruturadas durante o seu desenvolvimento. Em verdade, é preciso lembrar que pais que adotam uma criança – sejam eles “tradicionais” ou não – possuem uma grande tendência a estarem em um estágio da vida de pleno equilíbrio financeiro, educacional e, principalmente, um desejo imenso de se dedicar da forma mais plena àquela criança que entra em sua casa.
Este estudo só vem para fortalecer ainda mais o argumento em favor da ideia de que todos os indivíduos devem possuir direitos iguais, seja esse o direito a casa ou a ter um filho, pois estudos anteriores já haviam comprovado que crianças criadas por pais de mesmo sexo não “aprendem” a sexualidade e a orientação sexual parental – o que parece ser o medo de muita gente por aí. A cada evidência científica que surge, o argumento preconceituoso parece ruir aos poucos. Agora se tem mais uma certeza de que a sexualidade dos pais pouco vai interferir em relação aos cuidados educacionais de uma criança, talvez até o efeito ocorra de forma inversa, ajudando crianças a crescerem com um senso de respeito e liberdade que às vezes não é encontrado em famílias extremamente conservadoras e tradicionais.

Referência:
Michael J. Rosenfeld (2010). Nontraditional Families and Childhood Progress Through School Demography

2 comentários:

Unknown disse...

CREIO QUE VAI MEXER COM A CABEÇINHA FRÁGIL DA CRIANÇA QUE PRECISA DE PARAMETROS DEFINIDOS PARA CRESCER SAUDÁVEL PAI E MÃE.
AGORA NO QUE VAI DAR NISSO É UMA REVOLUÇÃO NO COMPORTAMENTO DESTAS NOVAS FAMILIAS...NÃO CREIO QUE VAI SER SAUDÁVEL NO COMPORTAMENTO DO SER HUMANO. SOMENTE DAQUI AQUI ALGUNS ANOS VAMOS AVALIAR MELHOR. , MAS FAZER O QUE . ???

Marcus Vinicius Alves disse...

Olá Natália, os parâmetros que a criança precisa para crescer saudável estão longe de ser uma família tradicional com os papéis supostamente definidos. O achismo e o senso comum são graves adversários da psicologia científica quando se fala de temas polêmicos e é preciso se apegar ao que dados objetivos e conceituados expõem. E um resultado científico já obtido é que não há diferença alguma entre uma família feliz hetero e homossexual. A maioria dos argumentos contra vem apenas de tradicionalismo, conservadorismo, religiosidade e preconceito.

A revolução comportamental nas famílias acontece o tempo todo, porque o tempo todo ela acontece no mundo, e esperamos que seja sempre uma revolução que deixe as pessoas mais tolerantes e conscientes. O comportamento humano se mostrou pouco funcional em diversas áreas desde a nossa pequena existência e, se há algo que sempre houve, foram casais heterossexuais. Logo, penso que essa temida revolução que você teme não será um grande problema.

A avaliação não precisa demorar tanto, confie no que os cientistas e pesquisadores mostram e não apenas em temores infundados.

Obrigado pelo seu comentário.

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